Uma boa escatologia (estudo das profecias relacionadas às últimas coisas) produz uma espiritualidade equilibrada. Paulo, o mais destacado escritor do Novo Testamento sobre o assunto, disse: “Quem não quer trabalhar, também não coma” (2Ts 3. 10). Para um grupo de cristãos que haviam se transformado em indigentes e mendigos sociais, ele exortou que a esperança do arrebatamento não produz pessoas ociosas, mas sim pessoas atuantes, produz uma fé engajada. Relaxamento moral e inadimplência social são reflexos de uma escatologia enferma. O arrebatamento aguça nosso senso de responsabilidade.
A espiritualidade segundo o reino de Jesus é marcada por valorização do ordinário e não apenas do extraordinário; pela coletividade que une fracos e fortes e age destruindo os muros do individualismo desta geração que aguarda o retorno do Rei. A doutrina cristã do arrebatamento deveria afetar profundamente nossa espiritualidade, porque a espiritualidade equilibrada é relacional. Ela não é seletiva, ela é democrática (Mt 22.9-13), ela não é excludente, ela é inclusiva (chama para perto), pois o amor cristão não constrange, ele atrai ... A doutrina bíblica do arrebatamento produz uma expectativa equilibrada da vida cotidiana, porém ela remove os tampões da nossa surdez conveniente para com: 1. o que vai contra o nosso orgulho; 2. exige obediência cega; 3. interrompe fantasias que nos embalam no sono espiritual; 4. chama a atenção para os nossos erros. Com todas essas prioridades em vista não poderíamos ouvir a trombeta que nos convocará ao encontro glorioso e transformador (1 Ts.4.13-18). As convicções cristãs afetam diretamente ou não a vida ética do ser humano? O conhecimento da doutrina do arrebatamento (dimensão intelectual das crenças pessoais) impõe um duro jugo sobre os membros do corpo de Cristo: viver à altura desses valores conhecidos superficialmente, ensinados relaxadamente, praticados até aonde é conveniente. Não precisamos viver em dilemas do tipo serei ou não arrebatado. O que põe fim a esse dilema é a prática cotidiana do que Jesus ensinou. O ensino ou pregação pública da Bíblia não nos isenta de um ajuste entre nosso discurso e a nossa prática diária.
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